sexta-feira, 14 de junho de 2013

Portas da Vila - Levada dos Moinhos - Achadas da Cruz - Portas da Vila - 27-01-2013

Neste dia de Janeiro, eu e um amigo resolvemos fazer esta levada. O tempo disponível não era muito. Este era o percurso ideal.
Já há muito tempo que não fazia este percurso. O outro companheiro de caminhada também não a conhecia, daí ser mais um motivo para rever esta bonita levada. Chama-se Levada dos Moinhos. Não fazer confusão com a que nasce na Ribeira da Ponta do Sol. Embora esta seja também uma levada de heréus, esta levada do Moinho, situa-se para as bandas do Porto Moniz. Foi construída a expensas dos seus utilizadores e só eles tinham direito ao seu uso, daí ser chamada de levada de heréus. A levada regava toda a zona do Pico Alto, abrangendo a Fajã do Nunes, grande parte da Vila, Fajã do Barro, Fajã dos Barbusanos e Arrudal.
Neste dia resolvemos fazer esta mesma levada no sentido contrário ao habitual. Ou seja, começaríamos nas Portas da Vila, mesmo junto ao Posto Florestal da Santa, onde se realiza a Feira Agropecuária, em vez de começar da Ribeira da Cruz. A intenção era mesmo usufruir da mancha de floresta  que esta parte da Levada nos oferece.
O dia estava algo cinzento. Adivinhava-se uns nevoeiros através da bela mancha de Floresta Laurissilva ao longo desta levada.
Assim partindo das Portas da Vila fomos ao encontro da Levada Grande ou Levada dos Moinhos. Consta que assim se chamou, pelos diversos moinhos existentes ao longo do seu percurso.
De pé, existe apenas um. O das Achadas. E que mal tratado ele está meus amigos! Voltaremos a ele mais adiante.

O percurso começa assim, ladeado por uns belos pinheiros que serpenteados pelo nevoeiro e com muita humidade envolvente emprestam um ambiente quase "místico" ao local. Cenário perfeito portanto. A levada, essa corria serena.
Dez minutos depois de termos iniciado o percurso, mesmo antes da escadaria lindíssima, que trás a levada de um nível superior, existe uma zona de fetos fenomenal. A levada escavada no chão, dá um ar ancestral ao local não fosse a desnecessária varanda de ferro. O nevoeiro, ao de leve, faz o resto.


Cinco minutos depois, atravessamos uma zona onde a água corre serena sobre uma "parede" de basalto, directamente para dentro da levada. A humidade é uma constante!
As saudades que já tinha de me ver num percurso assim!


Ao chegar-mos a um pequeno vale onde existe uma captação de água,  somos agradavelmente acompanhados por um casal de forasteiros. Incrível, como existem varias formas de interiorizar a floresta. Nestes anos que já levo de caminhadas pela Ilha, vejo que na sua generalidade o madeirense caminheiro é mais ruidoso. Faz notar mais a sua presença. Os forasteiros pelo contrário caminham pela ilha de uma forma quase "silenciosa". Sem perturbar quase a natureza. Vejo-os muitas vezes ao pares a deambular pelos nossos trilhos, afastados um do outro quanto baste para intensificar essa solidão. Esse silêncio. São de facto formas de estar e sentir diferentes. Não quero dizer com isto que, os mais ruidosos amem mais ou menos a natureza. Longe disso. Já vi de tudo infelizmente.



Continuando a  levada chegamos ao Moinho das Achadas. Ou melhor, o que resta dele. Seria de grande importância a sua recuperação e manutenção como polo aglutinador de alguma etnografia da zona. Contando talvez, a historia para as gerações vindouras, da importância da levada e dos próprios moinhos outrora existentes. Enquanto a memória não se apaga.


E várias outras "historias" perduram na memória das gentes do Porto do Moniz e Ponta do Pargo. Uma delas, e com muita graça, conta que a ligação da Madre de Água desta levada foi construída na base de uma "distracção" proporcionada pelas gentes do Porto do Moniz às gentes de Ponta do Pargo que disputavam a mesma nascente. Consta que os  Portimonizenses ofereceram figos aos Pargueiros e recomendaram que estes retirassem as sementes do fruto antes de serem comidos por serem venenosas. O tempo que os Pargueiros levaram a separar as referidas sementes foi o suficiente para que os do Porto do Moniz construíssem a ligação da Levada do Moinho á referida nascente. Historias que o povo conta!
De qualquer forma, e por ser um passeio curto, resolvemos terminar o passeio um pouco depois do Moinho e voltamos ao ponto de partida. A logística de ocasião assim o obrigava.
De registar ainda um ou outro pormenor não detectados na parte inicial do percurso!
Quando se quer "ver" mais além, vemos sempre mais alguma coisa. E pormenores de facto não faltam.
Foram três horas de caminhada num percurso que pode chegar a cerca de 20km (ida e vinda - começando na Ribeira da Cruz, Madre da levada, e terminando na Junqueira. já depois da casa Florestal da Santa.
Um passeio muito recomendado para caminheiros com pouca experiência. Pela sua facilidade, ausência de abismos e facilidade, em caso de necessidade, encurtar a todo o momento para a estrada regional 101.
Boas caminhadas e até uma próxima caminhada na minha terra!

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